sexta-feira, 15 de julho de 2011

O poeta Salatiel Caldas

O poeta Salatiel Caldas presenteando com seu livro
Por Uendel Galter; junho de 2011.
Onde não existe sequer “o que”, o poeta cria mundos.

O poeta é um amante de todas as coisas - boas ou ruins, bonitas ou feias, alegres ou trágicas - que por sua sensibilidade e aguçada percepção, a todo instante saltam-lhe aos olhos e aos sentidos em pulsante efervescência. Quem poderia penetrar sua alma e entender-lhe em sua natureza conflitante?

Indômito; capaz de combater os mais terríveis inimigos e fantasmas ou por muitas e muitas vezes fraco e prostrado, agrada-lhe sobretudo o SENTIR. Até mesmo a “dor” mais aguda e dilacerante estranhamente é bem-vinda em seu fecundo coração que, em uma busca incessante e quase obsessiva, tenta, através da palavra escolhida e polida tal qual a uma preciosa jóia, compreender, compreender-se e se fazer compreendido.

E esse é o seu grande trunfo; essa é a sua arma; essa, é sua obsessão; sua saída: a Palavra. O dizer tão certeiro quanto a mais veloz e precisa flecha que, ao encontrar seu alvo, dilacera a carne penetrando até a alma. Se não fora o refúgio das palavras para externar suas aflições, o poeta certamente sucumbiria à loucura. Aliás, ser poeta tem, quando não um total estado, um pouco de loucura.

Assim, em meio a aflições e devaneios, o poeta fala a nossa alma. Faz-nos risonhos, traz aos olhos lágrimas, tristeza e/ou alegria ao coração; convoca-nos à revolução e à luta; revela-nos o que está oculto no mais profundo de nossos corações; conduz nossas mentes ao infinito.

“Amem o mundo e verão melhor a vida”. Salatiel Caldas; algumas histórias.

São Bartolomeu é o santo padroeiro de Maragojipe. E como não poderia deixar de ser, no dia reservado ao seu louvor todo município comemora numa grande festa. Porém, no 24 de agosto de 1911, o santo católico teve que ceder um pouco de espaço e dividir as atenções com um outro acontecimento local; uma outra festa: um batizado. A criança havia nascido no dia 5 daquele mesmo mês e ano. Seu nome, Salatiel Correia Caldas.

A infância e adolescência de Salatiel foram marcadas por tristes acontecimentos, como a separação dos pais, quando ele ainda era muito pequeno, e a doença e morte da mãe, estando Salatiel com 14 anos. O que talvez tenha contribuído com uma certa melancolia percebida em alguns de seus poemas.

Alma Ferida

Desiludido, triste e solitário,
Já não posso mais lutar pela vida.
Caminho errante sem itinerário,
Tenho o peito em chagas e alma ferida.

Quem dera, poder me afastar de tudo.
Neste mundo vil, frio e indiferente.
Tornar-me para sempre surdo-mudo
Para assim poder calar a mente.

Somente assim, talvez eu me sentisse
Um pouco mais feliz, no fim da existência,
Sem falar, nem ouvir aos desolados.

E quando cabisbaixo então me vissem
Teriam, com certeza na consciência
Desejos de saber do meu passado.

Antes do falecimento de sua mãe, Salatiel fora morar com o pai em Conceição de Salinas; contava ele com 9 anos de idade. Aos 12 já assumia funções de balconista e ajudante de padeiro no comércio de secos e molhados de seu pai e em outros estabelecimentos.

O trabalho prematuro não o incomodava; tão pouco o relacionamento com seus irmãos paternos e com sua madrasta, que também não o tratava mal. O comportamento fechado de seu pai era o que mais o atingia. O que acabou influenciando o temperamento do próprio Salatiel, que vivia solitário e afastado dos outros meninos.

Segue assim sua adolescência. Então, em janeiro de 1927, quando Salatiel tinha 16 anos, sua vida toma um outro rumo. É enviado à Salvador para morar com seu tio Juca, comerciante dono de um deposito de material de construção, e posteriormente, com outro tio, de nome João Batista.

A mudança da pequena Conceição para a capital ampliou os horizontes do jovem Salatiel, que passou a conhecer diversas outras facetas da vida. Ao trabalhar em estabelecimentos comerciais de espanhóis que tratavam seus empregados de forma impiedosa, percebeu como era humilhante a vida do trabalhador sem seus direitos. Um novo sentimento nasce em seu coração; um sentimento revolucionário, por assim dizer. Então, aos 18 anos ele se filia à União Caixeiral da Bahia, engajando-se na luta por melhores condições de trabalho para seus companheiros.

À época, um forte sentimento nacionalista e de amor à Pátria enchia o seu coração, encontrando pouso e referência na figura de Getúlio Vargas, que, para Salatiel, foi o grande herói do povo e dos trabalhadores. A admiração do poeta é demonstrada nos poemas “Ode a Getúlio” e “O Silêncio de Getúlio”; este último escrito após a morte de Vargas, em 1954:8

Ode a Getúlio

1. Vieste de tão longe arrogante e intrépido
Com teu belo charuto, que tornou-se histórico.
Com teu caráter limpo, extremoso e lépido.
E deixaste então o povo, satisfeito e eufórico.

2. Te fizeste um chefe audaz e destemido.
Desde que empunhaste a bandeira da luta.
Fizeste muitos amigos dos quais foste querido,
Mas também inimigos de mentes vis astutas.

3. Que te jurou vingança por simples despeito.
E te perseguiram por muitos e muitos anos.
Porque se julgaram com maior direito
Ao afeto sincero dos seres humanos.

4. Julgavam-se donos da afeição do povo.
Que por suas tramóias, muito os detestavam.
E que assiste agora cheios de rancor
a perda de seu chefe à quem tanto amavam.

5. Mas uma coisa é certa, o povo é persistente.
Quando dá a sua estima, é com determinação.
Por isso o lembrará hoje e eternamente
e a há de tê-lo sempre dentro do coração.

6. Serás o sustentáculo de todos os direitos
Que deste a esta massa humilde, mas construtora.
Do progresso da pátria e de ideais perfeitos.
Como são os ideais da gente trabalhadora.

7. Que vive angustiada. Sem saber ao certo.
Quando é que os homens irão compreender
Que há necessidade de trabalho correto
Mas também salários dignos para viver.

8. Ouvirás sempre um eco ressoar lá no infinito,
Envolto de sentimento e de muito orgulho
Viva ressonância de um vibrante grito
Dado com muito amor: Viva!...Viva! Getúlio.

(Rio de Janeiro, 1945)

O Silêncio de Getúlio (Rio de Janeiro, 1954)

1. Silenciaste Getúlio, de repente
Foste na vida inteligente, ousado.
Seus inimigos, pensaram unicamente
Afastá-lo do povo, de quem era amado.

2. Mas o silêncio do gigante adormecido
Apavorou toda a malta que esperava.
Poder torná-la para sempre esquecido
Da massa humilde, que muito o amava.

3. Quedaram-se perplexos e estarrecidos
Ante ao teu gesto heróico e excepcional.
Porque viram reavivar-se ainda mais.

4. A estima por um morto enaltecido.
Que foi seu guia extremoso sem igual
Cuja lembrança neste povo, jamais finda.

Durante muito tempo Salatiel viveu uma vida peregrina. O mundo se abria diante dele, pulsante e cheio de desafios e ensinamentos; e ele não se mostrava indiferente, absorvia a tudo e aprendia cada lição como bom aluno. A coisa apertava em Salvador? Voltava para Conceição de Salinas. Não tinha grandes apegos que o prendessem aqui ou ali. Alguns poemas desta época refletem isso:

“Ode ao mundo, ao amor e a vida”

1. Fugir do mundo, é uma vã loucura.
Fugir da vida, é uma alucinação,
Fugir do amor, é uma louca traição
Que leva o próprio corpo à sepultura.

2. O mundo é nosso grande conselheiro
Abre-nos o seu livro noite e dia
Mostra-nos o bem e o mal em fantasias
Para que possamos ser bons cavalheiros.

3. A vida nos incita a ter ação
A fim de conquistarmos o progresso.
Fugir dela, é um grande retrocesso.
Jamais conseguiremos salvação.

4. O amor, ora fale o Deus cupido
Convida-nos ao sonho e fantasia
Envolve nossa alma em poesia
E transforma pacatos em atrevidos.

5.Saibam pois que o mundo, o amor, a vida.
São três enigmas indecifráveis.
Todos iguais, na dor inseparáveis
Se os evitemos, mais dura é a partida.

6. Eis aí porque eu lhes conscito:
Amem o mundo e verá melhor a vida
busquem o amor, a esperança vivida
para que possam galgar o infinito.

Em outubro de 1938, após a morte de seu pai, Salatiel, agora aos 27 anos, rompe de vez com os poucos laços que ainda o prendiam na Bahia e acompanhado do amigo Orlando, também de Conceição de Salinas, em 25 de novembro daquele mesmo anos, embarcam no navio Itanajé, da Companhia de Navegação Costeira, e após 4 dias, desembarcam no Rio de Janeiro.

Novas experiências provocariam grandes mudanças na vida de Salatiel. Sua empreitada no Rio não foi nada fácil. As primeiras noites tiveram que ser dormidas no chão forrado apenas com jornais. Não fora pior, ficando ao relento, porque dois primos de Orlando ofereceram pousada em um quarto simples e humilde que ocupavam.

As coisas não iam muito bem para o poeta naqueles primeiros dias longe de sua terra. Porém, após 30 dias procurando emprego, encontra o amigo e conterrâneo Josias, que trabalhava como condutor de bonde. Através da ajuda de Josias que Salatiel consegue emprego na Companhia de Carris do Rio de Janeiro, também como condutor de bonde.

Posteriormente, uma grande surpresa. Outro encontro que mudaria mais uma vez a sorte de Salatiel. Uma antiga paixão de Conceição o procura. Encontraram-se umas duas vezes, porém, ao ser questionado sobre Deus e assuntos espirituais, ele retrucou. Não queriam falar sobre aquele assunto. Desentenderam-se. Todas as expectativas de Salatiel caíram por terra e, como todo bom poeta, sentiu sua dor com toda intensidade. Passou por um período de depressão e quase oito dias sem ir trabalhar.

Não apenas a perda romântica o afligia. Os questionamentos levantados pela mulher também mexeram com ele. O estado de desorientação só foi desfeito quando, ao passar por uma livraria de livros esotéricos, a Freitas Bastos, resolveu entrar. Assim, por indicação do atendente, saiu de lá com os livros “Curso de Iniciação Esotérica” e “A Vida Triunfante”.

A leitura levou o espírito e a mente de Salatiel a um outro nível, trazendo-lhe paz e compreensão. Filiou-se ao Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento e, 29 de outubro de 1943.

Salatiel permaneceu no Rio até 1947, posteriormente retornando à sua terra. Porém, como que seguindo uma sina de peregrino, retornou às terras cariocas em 1952, mas permanecendo por apenas dois anos.

O poeta Salatiel Caldas hoje reside em São Roque do Paraguaçu, distrito de Maragojipe, ao lado de sua esposa Janice Caldas. Apesar da extensa obra, Salatiel tem publicado apenas um livro “A Poesia Romântica de Salatiel Caldas”; Edições Kouraça, e algumas participações em coletâneas de poesias.
Salatiel e sua esposa Janice Caldas. Ambos fazem parte do grupo que fundou da COBEPA.
Daqui a pouco mais de um mês, em 5 de agosto, o poeta completará 100 anos e a COBEPA está preparando uma grande festa em sua homenagem. E, para quem dedicou a vida a arte, nada mais adequado que um festival cultural; o 1º Festival Cultural de Talentos Salatiel Caldas, que acontecerá em agosto.

Referências Bibliográficas: A Poesia Romântica de Salatiel Caldas; Ed. Kouraça; Apresentação do padre Edmilson Ribeiro

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O poder do querer



Por Valter Cruz – (Engenheiro, Analista de Sistemas e Prof. Universitário; Mestre em Adm. de Empresas; Gestor Social e Educador Ambiental)

Nesse artigo quero falar a vocês da força do querer. Vou iniciar contando uma pequena história real.

Poderia contar várias outras do nosso cotidiano, mas escolhi essa porque envolve a (sempre) elevada quantia de 1 milhão de dólares. Em um sábado de 1890, O pastor Frank Wakeley Gunsaulus , anunciou nos jornais de Chicago que pregaria, na manhã seguinte, um sermão intitulado "O que eu faria se tivesse um milhão de dólares".

Este anúncio atraiu a atenção de Philip D. Armour, o rei dos frigoríficos, que decidiu ir ouvir o sermão, no qual o pastor Gunsaulus descreveu o plano de um grande instituto de educação, onde os jovens tivessem aprendizagem prática e desenvolvessem a capacidade de aprender. Algo semelhante às nossas Escolas Técnicas.

Após a apresentação do pastor, um homem aproximou-se do púlpito e disse-lhe: "Reverendo, eu gostei do seu sermão, eu acredito que o senhor possa fazer tudo que expôs, se tivesse um milhão de dólares. Para provar que eu acredito no senhor e no seu projeto, se o senhor for ao meu escritório amanhã pela manhã, eu te darei o milhão de dólares. Meu nome é Phillip Danforth Armour."


Em 1890 a educação avançada era um privilégio da elite da sociedade e Gunsaulus havia trabalhado esta idéia por dois anos. O Armour Institute of Technology abriu as portas em 1893 oferecendo cursos profissionalizantes de engenharia, química e arquitetura. Em 1940 fundiu-se ao West Side Chicago College que oferecia cursos de ciências humanas, dando origem ao Illinois Institute of Technology (IIT), que continuou crescendo e hoje é uma das maiores universidades americanas com mais de 38 mil alunos e um orçamento anual de pesquisas de mais de 130 milhões de dólares. ( www.iit.edu ).
Essa história, somada a milhões de outras, exemplifica que onde existe um querer, existe um caminho. Ou como diz o poeta Jimmy Cliff "You can get it if you really want" (Você conseguirá, se realmente quiser). O Armour Institute of Technology, uma das maiores escolas técnicas dos Estados Unidos nasceu do querer do pastor Gunsaulus somado ao capital de Philip Armour.
Segundo Napoleon Hill, um capitalista de sucesso dos anos 90, "Há sempre fartura de capital à disposição dos que podem traçar planos práticos para serem levados a efeito". Muita gente se esconde por trás dos empecilhos para levar seus projetos adiante. Os verdadeiros realizadores vêem as oportunidades, os espaços, as ajudas. Os obstáculos são chances para exercitarem a criatividade.

Vivemos uma época de mudanças. Mudanças de tecnologias, mudanças de hábitos, mudanças nas formas de fazer negócios, nas formas de comprar, de receber, de pagar. Mudanças, mudanças, mudanças. Descobrir oportunidades é uma simples questão de investigar e fazer uso da imaginação.


Isso não é texto de auto-ajuda, mas minha vivência me diz que a frase "eu não posso" é uma maneira mal disfarçada de dizer "eu não quero". Eu levei muitos anos e gastei muita grana para chegar a essa conclusão. E você ganhou isso com um click.... Que sorte a sua, hein!

Meu email é valtercruz@gmail.com, estou esperando.